
O Que Te Fizeram Acreditar Que Era Amor (Não Era!)
Ser gritada, humilhada, controlada ou manipulada não é amor. É abuso. E não, não é normal.
Há frases que se entranham.
“Estás a exagerar.”
“Se fosses menos sensível, isto não acontecia.”
“Faz isto por mim, se me amas.”
“Tu és o problema.”
E há momentos em que o corpo já sabe o que a mente ainda não quer aceitar:
Isto não é amor. Isto é dor.
Mas quando crescemos dentro de relações marcadas pela desvalorização, pelo medo, pela chantagem emocional, pelo silêncio cortante ou pelas palavras que ferem como murros — chamamos a isso normalidade.
Chamámos amor ao que nos partiu.
Chamamos lealdade ao que nos aprisiona.
Chamamos estabilidade ao que nos paralisa.
Ser gritada não é normal.
O tom de voz que te ameaça, que te diminui, que te atordoa — não é intensidade, é violência.
Ser criticada constantemente não é normal.
Não é “para teu bem”. Não é “só uma opinião”. É corrosão diária da tua auto-estima.
Ser controlada não é normal.
Não é cuidado. É domínio. E o amor verdadeiro não precisa de algemas.
Ser manipulada ou coagida não é normal.
Não é “só uma fase”. Não é “o jeito dele de lidar”. É abuso emocional, ainda que sem marcas visíveis.
Ser rebaixada não é normal.
Não é “brincadeira”. Não é “estás a levar demasiado a sério”. É desumanização disfarçada de humor.
Quando tudo o que conheceste foi abuso, o silêncio parece conforto.
A ausência de gritos parece paz.
O mínimo parece muito.
Mas o verdadeiro normal é outra coisa.
Normal é sentires-te segura.
Dentro de casa. Dentro do corpo. Dentro da relação.
Normal é teres autonomia.
Poder dizer não. Poder escolher. Poder sair. Sem medo.
Normal é estabilidade emocional.
Sem manipulações, sem chantagens, sem ameaças veladas. Só a presença tranquila de quem está porque quer estar.
Normal é respeito mútuo.
Não por obrigação. Mas porque se vê no outro um ser inteiro, digno, livre.
Normal é amor que alimenta a tua alma.
Não aquele que te seca, que te rouba, que te diminui. Mas o que te vê — mesmo quando estás em pedaços — e te sustenta.
O abuso, embora tragicamente comum, não é normal.
Mas o corpo habitua-se.
A alma cala-se.
E o medo veste-se de rotina.
Até que algo em ti — talvez um texto, uma frase, um olhar — desperta.
E percebes que não, não era normal.
E sim, mereces outra coisa.
E que sim, ainda vais conhecer o que é amar sem dor.
Se estás a reconhecer-te nestas palavras, ou se estás a sair de uma relação abusiva e não sabes por onde recomeçar — fala comigo. A psicoterapia não é só um espaço de cura. É um espaço de reconstrução. De nomeação. De liberdade.
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