Anabela Reis

O Que Te Fizeram Acreditar Que Era Amor (Não Era!)

Ser gritada, humilhada, controlada ou manipulada não é amor. É abuso. E não, não é normal.


Há frases que se entranham.

“Estás a exagerar.”

“Se fosses menos sensível, isto não acontecia.”

“Faz isto por mim, se me amas.”

“Tu és o problema.”

E há momentos em que o corpo já sabe o que a mente ainda não quer aceitar:

Isto não é amor. Isto é dor.

Mas quando crescemos dentro de relações marcadas pela desvalorização, pelo medo, pela chantagem emocional, pelo silêncio cortante ou pelas palavras que ferem como murros — chamamos a isso normalidade.

Chamámos amor ao que nos partiu.

Chamamos lealdade ao que nos aprisiona.

Chamamos estabilidade ao que nos paralisa.


Ser gritada não é normal.

O tom de voz que te ameaça, que te diminui, que te atordoa — não é intensidade, é violência.

Ser criticada constantemente não é normal.

Não é “para teu bem”. Não é “só uma opinião”. É corrosão diária da tua auto-estima.

Ser controlada não é normal.

Não é cuidado. É domínio. E o amor verdadeiro não precisa de algemas.

Ser manipulada ou coagida não é normal.

Não é “só uma fase”. Não é “o jeito dele de lidar”. É abuso emocional, ainda que sem marcas visíveis.

Ser rebaixada não é normal.

Não é “brincadeira”. Não é “estás a levar demasiado a sério”. É desumanização disfarçada de humor.


Quando tudo o que conheceste foi abuso, o silêncio parece conforto.

A ausência de gritos parece paz.

O mínimo parece muito.

Mas o verdadeiro normal é outra coisa.


Normal é sentires-te segura.

Dentro de casa. Dentro do corpo. Dentro da relação.

Normal é teres autonomia.

Poder dizer não. Poder escolher. Poder sair. Sem medo.

Normal é estabilidade emocional.

Sem manipulações, sem chantagens, sem ameaças veladas. Só a presença tranquila de quem está porque quer estar.

Normal é respeito mútuo.

Não por obrigação. Mas porque se vê no outro um ser inteiro, digno, livre.

Normal é amor que alimenta a tua alma.

Não aquele que te seca, que te rouba, que te diminui. Mas o que te vê — mesmo quando estás em pedaços — e te sustenta.


O abuso, embora tragicamente comum, não é normal.

Mas o corpo habitua-se.

A alma cala-se.

E o medo veste-se de rotina.

Até que algo em ti — talvez um texto, uma frase, um olhar — desperta.

E percebes que não, não era normal.

E sim, mereces outra coisa.

E que sim, ainda vais conhecer o que é amar sem dor.


Se estás a reconhecer-te nestas palavras, ou se estás a sair de uma relação abusiva e não sabes por onde recomeçar — fala comigo. A psicoterapia não é só um espaço de cura. É um espaço de reconstrução. De nomeação. De liberdade.

endurance.pt/bio

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