Anabela Reis

Ler para Viver Melhor — A leitura como prática terapêutica e acto radical de cuidado

Ler não é um passatempo. É um sistema nervoso alternativo.

Há quem leia para passar o tempo.

Mas há também quem leia para sobreviver.

Para aguentar o que não se diz.

Para voltar a sentir. Para encontrar palavras onde só havia silêncio.

A leitura não é um escape. É uma forma de voltar.

De regressar a nós, à nossa verdade, ao centro do corpo.

E não, não é exagero — a psicologia comprova:

ler transforma o cérebro. E com ele, transforma a vida.


Biblioterapia: quando os livros tratam feridas que nem sabíamos que tínhamos

Na psicoterapia, os livros são pontes.

Pontes entre o que vivemos e o que ainda não conseguimos compreender.

A biblioterapia é isso mesmo:

– não uma fuga da realidade,

– mas uma escuta diferente do que dói.

– uma forma de reorganizar a dor com outra linguagem.

Um livro certo no momento certo pode abrir espaço para o choro.

Para a raiva.

Ou para o alívio de finalmente encontrar alguém que nos entende — mesmo que esse alguém tenha morrido há 200 anos e se chame Tolstói.


A psicologia da leitura profunda

Ryan Holiday diz que um livro é feito de livros.

Eu digo que uma pessoa inteira é feita de leituras.

A leitura profunda — aquela que exige presença, sublinhado, corpo e tempo — activa áreas do cérebro ligadas à empatia, à autorregulação emocional e ao pensamento crítico.

Ler devagar melhora o foco.

Ler com atenção fortalece o sentido.

Ler com lápis na mão devolve controlo sobre o que parecia caótico.


Os livros certos mudam vidas. E não precisam de ser novos.

– Lê todos os dias, em qualquer lugar.

– Leva um livro contigo.

– Regressa aos clássicos.

– Sublinhas. Escreve nas margens. Relembra.

– E volta a reler.

A psicologia sabe que a repetição fixa estruturas neuronais.

Voltar a um livro que te marcou é regressar a um momento da tua vida — mas com outra consciência.

Nunca se lê o mesmo livro duas vezes, porque quem o lê já não é o mesmo.


Quando a leitura é mais forte que a terapia

Há sessões em que não há palavras.

Mas há passagens.

Trechos de livros que dizem por ti. Que tocam o que está guardado. Que dão nome ao que ainda era só sintoma.

A leitura tem esse poder:

Transformar a culpa em linguagem.

A ansiedade em pergunta.

O vazio em possibilidade.


A anti-biblioteca: tudo o que ainda não sabes — e tudo o que ainda podes sentir

Holiday fala da anti-biblioteca como um gesto de humildade intelectual.

Mas na psicologia, é também um gesto de esperança.

A pilha de livros por ler não é um fardo — é uma promessa.

Ela diz-te:

Ainda há mais. Ainda não viste tudo. Ainda podes mudar.

E isso, num mundo que nos quer apressados, é revolucionário.


Ler é um acto político — e profundamente pessoal

Ler com presença num tempo de distração não é fácil.

Mas é urgente.

Cada página lida com o corpo presente é um protesto contra a superficialidade.

Cada frase que te move é uma pequena subversão da apatia.

Cada livro que te transforma é um acto de resistência íntima — e de reconexão com o que és.


Lê como quem se cuida. Como quem se trata. Como quem se quer viva.

A leitura pode não resolver tudo.

Mas pode ser o começo.

Não de uma resposta.

Mas de uma escuta.

Não de uma cura rápida.

Mas de um processo possível.

Escolhe um livro.

Escolhe-te.

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Porque há coisas que não se curam com pressa. Mas quase todas começam com uma boa leitura.

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