Anabela Reis

Não Estás Perdido. Estás Parado. O que a psicologia diz sobre ansiedade, bloqueios e a arte de começar

Há um fenómeno curioso nas vidas contemporâneas: sabemos o que fazer, mas não fazemos.

Sabemos que precisamos de descansar, mas não largamos o telemóvel.

Sabemos que devíamos agir, mas adiamos.

Sabemos que escrever ajuda, mas mantemos tudo dentro.

Este é o paradoxo da autoconsciência: ter acesso à solução e continuar na dor.

Não por ignorância. Mas por resistência, evitamento, sobrecarga.

A psicologia conhece bem este padrão.

Neste artigo, trago-te cinco problemas emocionais universais e as respostas que a ciência psicológica nos oferece. Nenhuma delas é mágica. Mas todas são eficazes — se fores capaz de fazer o trabalho que estás a evitar.


1. Pensas Demais Porque Não Escreves

→ A ruminação é um sintoma de falta de externalização cognitiva.

O cérebro humano tem capacidade limitada de memória de trabalho (Miller, 1956). Quando não externalizamos o pensamento — através da fala ou da escrita — sobrecarregamos o sistema.

A ruminação (Nolen-Hoeksema, 1991) é um dos preditores mais fortes de depressão e ansiedade.

Escrever funciona como autodialogia organizada — permite estruturar o pensamento, reduzir o ciclo repetitivo e clarificar emoções.

→ Solução baseada na ciência: brain dump (esvaziamento mental) durante 10 minutos por dia. Escreve sem censura, como método de clarificação e descarga cognitiva.


2. Estás Ansiosa/o Porque Não Ages

→ A ansiedade é uma resposta ao desconhecido e ao incontrolável.

O sistema límbico, em especial a amígdala, activa-se perante incerteza (Grupe & Nitschke, 2013). Quando não há acção, o cérebro permanece em alerta.

A acção concreta reduz a incerteza e activa o córtex pré-frontal — centro da tomada de decisão e do controlo executivo.

Agir quebra o ciclo de antecipação catastrófica. É o que a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) chama de exposição activa ao estímulo (Beck, 2011).

→ Solução baseada na ciência: uma acção pequena e executável por dia. A acção reduz ansiedade porque devolve ao sujeito a agência sobre a sua experiência.


3. Procrastinas Porque Não Tens um Plano

→ O cérebro evita o que não compreende.

A procrastinação é um mecanismo de regulação emocional de curto prazo (Sirois & Pychyl, 2013). Quando uma tarefa parece demasiado grande ou ambígua, o cérebro activa o evitamento como resposta ao desconforto.

Tarefas mal definidas activam o “modo difuso” de pensamento, que gera confusão e bloqueio. Já tarefas concretas e com limite de tempo activam o “modo focado” e aumentam a autoeficácia (Bandura, 1977).

→ Solução baseada na ciência: decompor grandes tarefas em microobjectivos de 15 minutos. Este método reduz o medo do fracasso, activa o sistema de recompensa (dopamina) e cria impulso.


4. Estás em Stress Porque Não Treinas o Corpo

→ O corpo armazena tensão emocional não descarregada.

A teoria polivagal (Porges, 2011) explica que a regulação emocional está profundamente ligada ao estado fisiológico.

Corpos imóveis, em alerta permanente, ficam presos num estado de hiperactivação simpática: stress, insónia, irritabilidade.

O movimento físico — especialmente em intensidade moderada — regula o sistema nervoso autónomo, liberta endorfinas, reduz cortisol e melhora o humor (Ratey, 2008).

→ Solução baseada na ciência: 20 minutos diários de movimento rítmico (caminhar, dançar, yoga, etc.). Não é ginásio — é regulação somática.


5. Falta-te Clareza Porque Não Refletes

→ A autorreflexão é uma função executiva. Requer prática.

A clareza não é um dom. É uma consequência de síntese cognitiva e filtragem emocional. O journaling (escrita reflexiva) demonstrou melhorar o foco, reduzir sintomas depressivos e reforçar o sistema de valores internos (Pennebaker & Smyth, 2016).

Três prioridades escritas diariamente activam o sistema atencional selectivo (Baumeister, 2010), limitando o ruído e organizando o dia à volta do que realmente importa.

→ Solução baseada na ciência: escrever todos os dias três prioridades. É um acto de higiene mental. Não é produtividade. É sanidade.


A Dura Verdade (Comprovação Empírica Incluída)

Sabes o que tens de fazer. Só não estás a fazer.

O cérebro humano é perito em evitar o desconforto. Mas o crescimento psicológico exige exposição voluntária ao que dói, ao que paralisa, ao que custa começar.

A mudança emocional sustentável não vem de revelações.

Vem de microcompromissos diários com aquilo que sabes que precisas — mas tens adiado.

A magia que procuras não está nos livros.

Está nas acções que recusas fazer.

Está no trabalho emocional que evitas.

E é por isso que continua a doer.


Queres começar? Começa.

Escreve. Mexe-te. Age.

Divide. Reflecte.

E se precisares de um espaço onde o fazer tenha lugar, agenda comigo.

A psicoterapia é onde a teoria encontra o corpo,

e a verdade encontra palavras.

www.endurance.pt/bio

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